Trump autoriza “bombas de cianeto” para matar animais selvagens

Correio do Pantanal

11 ago 2019 às 16:15 hs
Trump autoriza “bombas de cianeto” para matar animais selvagens

A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, que validou a medida, justifica-a com o prejuízo que alguns animais selvagens trazem para os produtores de gado.

© CENTRE FOR BIOLOGICAL DIVERSITY

Catarina Reis – DN

Apesar da contestação de vários ambientalistas, a administração Trump voltou a autorizar a utilização das designadas “bombas de cianeto” pelos funcionários do governo para matar animais selvagens que atacam o gado, como coiotes e raposas. As armadilhas oficialmente designadas M-44 tinham sido suspensas depois de um adolescente de 15 anos ter morrido envenenado, em 2018, e de terem sido registadas múltiplas mortes de cães. O recurso a este instrumento foi novamente aprovado, com o aval da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA), de acordo com o The New York Times.

Só no ano passado, mataram mais de 6500 animais em todo o país e, destes, 200 foram vítimas não intencionais. Nos últimos 30 anos, o grupo de defesa da vida selvagem Predator Defense dedicou-se a documentar o número de mortes e ferimentos causados pelas M-44. Ao todo, registaram mais de dez ferimentos em humanos e quase 50 cães mortos.

Contudo, de acordo com uma avaliação de risco realizada em 2018 pela EPA, concluíram que “com base na baixa frequência continuada de incidentes com cianeto de sódio” entre os humanos, “não parece haver uma preocupação neste momento”.

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O dispositivo foi desenhado para atrair os animais através de uma substância odorífera e ejetar cianeto de sódio, um composto que produz um gás altamente tóxico, assim que é mordido. Introduzido em 1975, o mecanismo foi sofrendo alterações ao longo dos anos de forma a garantir uma maior eficácia e segurança, face aos acidentes registados.

© CENTER FOR BIOLOGICAL DIVERSITY

Há décadas que as bombas de cianeto são utilizadas nos programas do Departamento de Agricultura dos EUA para garantir a segurança do gado. O Centro para a Diversidade Biológica divulgou um comunicado na quarta-feira passada onde condena a decisão da administração, caracterizando os responsáveis de “desumanos”, por decidirem matar milhares de animais por ano.

Apesar dos riscos, a agência anunciou que iria validar a sua utilização provisoriamente, embora garanta que irá reforçar as restrições sobre o método. A partir de agora, é proibido que os dispositivos se encontrem a uma distância de 30 metros da via pública e de habitações, além de que devem existir sinais de aviso a pelo menos cinco metros do dispositivo. A agência está ainda obrigada a notificar os cidadãos que residam a menos de um quilómetro destas bombas.

EPA argumenta com prejuízo para os produtores de gado

De acordo com o The New York Times, assim que a EPA lançou o debate sobre a autorização destas bombas, no final de 2018, chegaram à agência mais e 20 mil cartas em oposição à medida. A maioria indicava alternativas mais seguras para os efeitos, uma vez que as M-44 estavam a matar tantos animais que não são o alvo, em zonas residenciais.

Contudo, determinadas associações continuam a sublinhar que esta é uma medida importante para fazer frente aos prejuízos com a morte de gado por coiotes e raposas.São exemplos a Associação de Produtores de Lã de Wyoming, a Associação de Ovinos e Cabras de Texas e a Associação de Manejo de Danos da Vida Selvagem do Texas.

De acordo com o relatório mais recente feito pela EPA, a agência concluiu que estes dispositivos podem pôr em causa a sobrevivência dos produtores de ovinos, caprinos e bovinos. “Os produtores teriam custos mais elevados e/ou perderiam grande parte do seu gado”, pode ler-se no documento.

Embora não consigam “quantificar os impactos ou estimar o número de negócios que podem ser impactados pel retirada de ferramentas como as M-44”, com base na “natureza competitiva da indústria em questão, a agência determinou que era possível que a não utilização destes dispositivos pudesse levar à falência dos negócios de alguns produtores individuais”.

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