Os cães salvos das fazendas de carne na Coreia do Sul
Apesar de o consumo de carne de cão na Coreia do Sul estar a definhar, ainda é uma realidade no país, onde se estima que haja 750 mil cães de produção, destinados a acabar no prato de alguém. A BBC recolheu as histórias de três animais que foram resgatados de fazendas e a quem foi dada uma nova vida longe dos matadouros sul-coreanos.
O consumo de carne de cão é uma prática sazonal na Coreia do Sul, acontecendo sobretudo durante os meses de verão. Nos dias mais quentes de julho e agosto, é tradicional a preparação de uma sopa chamada “bosintang”, feita de legumes e especiarias locais, tendo na carne de cão o ingrediente principal.
Estima-se que haja mais de 750 mil cães para consumo na Coreia do Sul
De acordo com a BBC, estima-se que existam mais de 750 mil cães de produção na Coreia do Sul. Mas a popularidade do consumo tem declinado nos últimos anos, com o aumento das adoções de animais de estimação e a expansão de novas gerações que fazem emergir novas posições e comportamentos diferentes sobre o tema.
Desde 2017 até agora, fechou um dos maiores mercados de carne de cão no país e outro foi reduzido em tamanho, apesar de continuar parcialmente em funcionamento. Atualmente, a espécie canina consta da lista de animais de criação aprovados, mas o Governo está a considerar fazer alterações. Num inquérito realizado no país, 39,7% dos inquiridos defenderam a proibição do consumo de carne de cão, mas 51,5% manifestaram-se favoráveis à legalidade da prática.
A “Humane Society International” é uma ONG internacional que tem trabalhado com produtores de cães, desde 2014, no sentido de fechar os seus centros de produção (fazendas) e encontrar novas casas para os animais. A instituição oferece aos produtores um subsídio inicial de um ano, para apoiá-los na procura de meios de subsistência alternativos, ao mesmo tempo em que hospeda os cães por todo o Reino Unido, Canadá e Estados Unidos.
Ver imagens de cães nessas quintas em nada nos prepara para o turbilhão de emoções que a experiência real proporciona
Claire vive na cidade inglesa de Brighton e é a nova dona de Henry, um “golden retrevier“, “que começou a vida numa jaula de uma fazenda de produção de carne canina na Coreia do Sul”.
“Ver imagens de cães nessas quintas em nada nos prepara para o turbilhão de emoções que a experiência real proporciona. O cheiro terrível, o barulho de centenas de cães a ladrarem todos ao mesmo tempo, as caras deles a fixarem-nos através das jaulas. O Henry foi um exemplo extremo de um cão que se desligou e se fechou para dentro face àquele ambiente horroroso”, contou Claire à BBC, acrescentando que passou por “um processo muito longo” até o novo amigo de quatro patas “ter confiança nas pessoas” e “não ter medo de novas experiências”.
“Inicialmente, era muito difícil levá-lo a fazer alguma coisa. Fazer com que fosse para a rua foi o primeiro grande desafio, mas agora está disponível a tudo”, disse.
Quando eu era criança, era muito normal as pessoas comerem carne de cão
O percurso de Henry assemelha-se ao de Gus, um Shiba Inu raçado de Jindo-coreano, adotado por Meena, que vive em Greenwich, Londres. A asiática, criada na China mas de família sul-coreana, resgatou-o há cerca de um ano, “muito medroso e assustado”, e deu-lhe uma nova vida na capital inglesa, onde vive há dois.
“Quando eu era criança, era muito normal as pessoas comerem carne de cão. Nos aniversários, nos encontros da família, nas férias, as pessoas comiam sempre cão”, assegurou. Apesar de admitir que a prática já não é tão comum nos dias de hoje, diz ter-se deparado com vários restaurantes de carne canina quando visitou a Coreia do Sul, em 2017.
Lisa vive em Oxfordshire, também em Inglaterra, e é a dona do Bindi, do Indie e do Robin. Teriam todos ido parar a um mercado de carne se não tivessem sido resgatados a tempo. A vida do “gangue de Oxfordshire” mudou completamente.
Da próxima vez que uma quinta de carne de cão fechar, pode ser que as pessoas queiram ficar com algum
“A vida de campo é boa para eles. Temos muitos espaços abertos aqui. Todas as manhãs levo o Indie a ver as galinhas e os cavalos da quinta. Gostam de ir ao café também. Vamos ao ‘pub’ local, que é ao fundo da rua. As pessoas sabem de onde eles são e perguntam-me como consegui trazê-los. Da próxima vez que uma quinta de carne de cão fechar, pode ser que as pessoas queiram ficar com algum. Eles só precisam de uma oportunidade, só querem um lar”.
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