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Maria Campos com AFP
O Brasil mobilizou centenas de polícias e soldados para expulsar mineiros ilegais acusados de desencadear uma crise humanitária em Terras Indígenas Yanomami. Milhares de mineiros fugiram, uns em barcos estreitos com mais de 30 pessoas pelo rio Uraricoera, outros numa longa e cansativa jornada a pé.
De acordo com o ministro da Justiça, Flávio Dino, cerca de 15 mil pessoas invadiram ilegalmente esta área protegida na Amazónia, onde os indígenas acusam aos mineiros ilegais de ouro de assassinar e violar membros da comunidade, contaminar a água com mercúrio e provocar uma crise alimentar ao destruir a floresta. O governo federal decretou em janeiro o estado de emergência sanitária na região diante da explosão de casos de malária, pneumonia, infeções gastrointestinais e desnutrição.
O território Yanomami, a maior reserva indígena do Brasil, é um dos vários a sofrer um influxo maciço de mineiros ilegais sob o ex-presidente Jair Bolsonaro
O governo brasileiro começou a mobilizar mais de 500 polícias e soldados na região para uma operação de expulsão dos mineiros. As autoridades esperam que, quando a polícia iniciar a expulsão à força, pelo menos 80% dessas 15 mil pessoas já tenham deixado o território Yanomami por conta própria, disse o ministro, no início desta semana.
Como primeiro passo, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) começou a destruir equipamentos pesados apreendidos nas minas, incluindo um helicóptero, um avião e escavadora.

O presidente brasileiro, Lula da Silva, determinou também uma zona de exclusão do espaço aéreo sobre a reserva, impedindo a circulação de pequenos aviões que os mineiros utilizam para transportar comida e suprimentos.
Dias em fuga
Milhares de mineiros começaram a sair da região, a pé ou de barco, e dezenas chegaram a um porto improvisado no município de Alto Alegre, cerca de 80 quilómetros a oeste da capital de Roraima, Boa Vista. Alguns relataram ter passado os últimos três dias a navegar pela selva para sair do remoto território Yanomami, na fronteira do Brasil com a Venezuela.
Um deles é João Batista, de 61 anos, que passou os últimos sete meses a trabalhar como mineiro ilegal. “Olha, eu, já dessa idade, sem estudos, o que eu vou fazer para ter o meu sustento?”, questionou, em declarações à AFP, enquanto avançava por uma estrada empoeirada nos arredores de Alto Alegre, em Roraima.

Na autoestrada, a polícia reforçou o controlo e acompanhou o deslocamento dos mineiros, que foram revistados para garantir que não possuíam armas ou drogas ilegais.
Dino celebrou o êxodo, assegurando que o governo prefere que os invasores se retirem pacificamente e “sem conflitos”. “A nossa previsão é que esse fluxo de saída aumente nos próximos dias”, continuou o ministro. Porém, advertiu que isto não os deixará impunes e que “todos aqueles que cometeram crimes como genocídio, crimes ambientais, financiamento de mineração ilegal, como lavagem de dinheiro”, serão processados.
EXTRAÇÃO ILEGAL DE OURO NO BRASIL CONTINUA A SUBIR, SOBRETUDO NA AMAZÓNIA

Três indígenas assassinados por mineiros em fuga
Mas nem tudo é pacífico. O Ministério dos Povos Indígenas informou que recebeu um relatório segundo o qual mineiros em fuga assassinaram três indígenas que tiveram o seu primeiro contacto com o mundo exterior recentemente. “É muito triste ver a forte presença de mineiros e uma grande destruição. As áreas parecem infinitas, o território está todo tomado”, declarou a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara. “É uma situação de emergência permanente”.
As equipas sanitárias continuam a resgatar “entre 30 e 35” pacientes de diversas comunidades Yanomami em estado “grave” por dia.
