Áudios obtidos pela GloboNews mostraram gerentes de um banco negociando a retirada fraudulenta de R$ 8,5 milhões da conta de um idoso que morreu em setembro de 2019.

Rafael Ferreira, ex-gerente do banco, foi preso na quinta-feira pela polícia, que investiga ainda ameaças à viúva do idoso. Segundo a polícia, ele atuou em conjunto com Ana Gabriela Saloto, que também foi indiciada pela Delegacia de Roubos e Furtos.
Em uma ligação com o canal de atendimento do banco, Ana Saloto tenta fazer o resgate do dinheiro.
“Ana Saloto: eu estou com um cliente aqui porque ele tá tentando fazer uma movimentação na aplicação dele, tá? Ele está indo para Portugal. Eu pedi que ele fosse pela central de atendimento.
Atendente: o que é? Previdência?
Ana Saloto: isso mesmo. Ele quer fazer um resgate.
Durante a ligação, a gerente Ana Saloto entregou o telefone para outra pessoa, que se passou pelo cliente, morto um dia antes, e até reclamou do valor do imposto.
“Atendente: o senhor confirma o resgate total?
Golpista: pode fazer, pode fazer. Eu estou muito chateado, eu não queria, para mim estava aplicado tudo em poupança isso, já tem um tempo. A gente acaba deixando as coisas… Meu deus, é muito alto esse imposto.
Atendente: aí a gerente vai explicar melhor para o senhor, está bom? “
Nesse tipo de resgate, o cliente também é acionado pelo telefone para confirmar as informações. Esse é o protocolo de segurança.
Mas, nesse caso, como o cliente já estava morto, a gerente passou para o canal de atendimento um número de celular de um colega de trabalho: Rafael de Souza Ferreira, o gerente responsável pela conta corrente do idoso, preso na quinta-feira.
Seis dias depois da morte do cliente, a agência bancária movimentou a conta dele mais uma vez. Foram emitidos dois cheques nominais, no valor de R$ 4,273 milhões cada um.
OS cheques foram emitidos nos cônjuges dos respectivos gerentes: Michel Carneiro Saloto, o marido da gerente-geral Ana Saloto; e Wanessa Christiny Coutinho Ferreira, mulher do gerente Rafael Ferreira.
Organização da quadrilha
De acordo com a investigação, Rafael e outros dois gerentes de um banco criaram “uma organização especializada em fraudes de transações bancárias para recebimento de vantagens indevidas”.
A polícia afirma que, ao saberem da morte do cliente, o trio simulou o resgate do fundo de previdência, transferindo os valores para as contas pessoais de cônjuges por meio de cheques administrativos.
A fraude foi descoberta, segundo a investigação, por um mecanismo de segurança da instituição bancária, que acionou a Delegacia de Roubos e Furtos para o avançar na apuração.
Compra de imóveis e veículos
Os investigadores descobriram que com o dinheiro os suspeitos compraram imóveis e veículos. Rafael, segundo a polícia, comprou uma casa de luxo na Zona Norte do Rio.
Rafael, também de acordo com as informações, soube que a fraude tinha sido identificada pela polícia e foi até o endereço da viúva do cliente, uma idosa.
Lá, os investigadores afirmam que ele tentou que ela assinasse um documento declarando que o falecido companheiro tinha o desejo de doar a quantia aos gerentes da instituição bancária.
Ela se negou e, junto com o advogado que acompanhou o trâmite, teriam sido ameaçados. Por isso, a polícia abriu um novo inquérito para apurar o crime de coação no curso do processo.
Devido à ameaça, foi expedido mandado de prisão contra Rafael.
Os outros envolvidos na fraude foram denunciados por furto duplamente qualificado, associação criminosa e lavagem de capitais, inclusive com pedido de sequestro de bens.
G1 – Marcelo Bruzzi e Leslie LeitãoCopiar Endereço
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