Executivo e legislativo podem ficar nas mãos da mesma família, desde que os dois filhos do provável futuro presidente se candidatem, e ganhem, a liderança da duas casas do Congresso.
Se uma vez eleito presidente da República, Jair Bolsonaro cumprir a promessa de escolher Israel como destino da sua primeira visita oficial algures em janeiro e levar consigo o vice-presidente general Mourão, na ausência deles será o presidente da Câmara dos Deputados, terceiro na hierarquia do estado, a dirigir os destinos do Brasil. Caso o presidente da Câmara acompanhe também a comitiva presidencial, o que não é invulgar, liderará o país o presidente do Senado Federal, quarto na linha de sucessão. Sucede que os chefes das duas casas do Congresso podem ser Eduardo e Flávio Bolsonaro, os filhos de Jair. Um Bolsonaro sucede a outro, que por sua vez sucede a mais um Bolsonaro, apenas com um general pelo meio.
Terminada no domingo a segunda volta das eleições, começa logo no dia seguinte a campanha para a terceira volta, como é chamada nos corredores de Brasília a corrida às presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, essenciais pela influência sobre os demais parlamentares e no calendário das votações – por alguma razão, a presidente Dilma Rousseff foi derrubada em 2016 pela oposição que lhe moveu o presidente da Câmara dos Deputados da época, o hoje detido Eduardo Cunha.
E no dia 1 de fevereiro, data dessas votações, é provável que tanto Eduardo, 32 anos, como Flávio, 37, entrem na disputa pelo poder legislativo. E muito fortes. Até ao momento, 13 deputados e senadores já se mostraram dispostos a comandar as duas casas do Congresso – e, apesar da força parlamentar que o PT ainda mantém, dada a provável derrota de Fernando Haddad na corrida presidencial, nenhum desses nomes é de esquerda.
Na Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, o atual presidente, quer manter-se no cargo. No entanto, pertence ao DEM, partido de direita que apoiou o candidato de centro-direita Geraldo Alckmin, do PSDB, em vez de Bolsonaro, do PSL, de extrema-direita. Maia já vem acenando na direção dos bolsonaristas com a promessa de pôr logo a votação o projeto que visa a facilitação de compra de armas, um dos cavalos de batalha do provável futuro chefe do Estado. “A agenda de Bolsonaro é convergente com a minha…”, disse Maia. Mas, com 52 cadeiras na Câmara, menos apenas que as 56 do PT, e a onda em redor do capitão do exército que tomou o país, é o PSL que tem a faca e o queijo na mão.
Luciano Bívar, ex-presidente do partido, quer o cargo. O delegado Valdir é outro nome do PSL abertamente na corrida. Mas ninguém reuniria tantos apoios como Eduardo Bolsonaro, filho do presidente e deputado mais votado do Brasil. “Por meritocracia, seria ele o presidente”, disse o senador Major Olímpio, muito próximo de Jair Bolsonaro. “Família não pode ser critério para ajudar mas também não pode ser critério para atrapalhar”, acrescentou o deputado general Peternelli. “Não tenho de ser necessariamente eu ou alguém do PSL mas alguém identificado com o meu pai”, disse o próprio.
Por estratégia, no entanto, Bolsonaro e o filho admitem que poderão delegar a chefia da Câmara a alguém do Blocão, conjunto de partidos sem ideologia que trocam o seu apoio nas votações por cargos na estrutura do estado, para construir uma base parlamentar forte e aprovar projetos.