Dez anos após a independência, Kosovo ainda divide a UE

Correio do Pantanal

17 fev 2018 às 07:17 hs
Dez anos após a independência, Kosovo ainda divide a UE

Crianças seguram nas bandeiras do Kosovo (e na albanesa) numa celebração passada da independência do Kosovo. Esta foi declarada a 17 de fevereiro de 2008

  |  REUTERS

Posições distintas no governo austríaco. Ministro alemão pressiona sérvios no âmbito de futura adesão. Augusto Santos Silva diz que reconhecimento do Kosovo por parte de Portugal não abalou relações com a Sérvia

Dez anos após a declaração unilateral da independência do Kosovo (data que hoje se assinala), a UE continua sem posição unânime sobre a questão. E com a perspetiva de um alargamento futuro aos Balcãs Ocidentais, com a Sérvia em destaque, o debate sobre o tema regressou em força por estes dias.

No fim de semana passado, em entrevista ao jornal sérvio Politika, o vice-primeiro-ministro da Áustria, Heinz-Christian Strache, disse que “o Kosovo é parte da Sérvia sem qualquer dúvida”. Líder do partido de extrema-direita FPÖ, Strache foi depois corrigido pelo primeiro-ministro, Sebastian Kurz, obrigado a vir garantir: “A Áustria reconheceu o Kosovo há muito tempo e isso não vai mudar.”

A Áustria, como Portugal, integrou as primeiras vagas de países a reconhecer o Kosovo em 2008. Apesar dos protestos da Sérvia (e da sua grande aliada Rússia). Questionado pelo DN sobre se Portugal fez bem em reconhecer a independência kosovar e se hoje voltaria a tomar a mesma medida, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva disse: “Foi uma decisão tomada pelo governo em 2008 e que eu respeito.” O chefe da diplomacia garante que isso não afetou as relações com a Sérvia. “Do ponto de vista político-diplomático são muito boas. São-no tradicionalmente e não foram afetadas pelo reconhecimento. A Sérvia percebeu as razões de Portugal.”

Com uma das populações mais jovens da Europa (53% dos habitantes tem menos de 25 anos), uma taxa de desemprego de 34,8%, o radicalismo islâmico à espreita e as tensões entre albaneses e sérvios sempre latentes, o Kosovo é um dos países mais pobres do continente. Durante muito tempo um protetorado internacional, gerido por missões da ONU, NATO e UE, o país só é reconhecido como tal por 113 dos 193 Estados da ONU até ao momento. Dos 28 membros da UE, cinco (Espanha, Roménia, Chipre, Grécia e Eslováquia) não reconhecem ainda hoje o Kosovo.

A Rússia, aliada da Sérvia, usou o reconhecimento do território para calar os líderes dos países que criticaram a anexação russa da Crimeia durante o conflito na Ucrânia, alterando pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial as fronteiras da Europa. O facto de agora se discutir o próximo alargamento, com a Sérvia a poder entrar na UE possivelmente no ano de 2025, levou o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão a dizer nesta semana que o reconhecimento do Kosovo é condição para a Sérvia poder entrar no clube europeu.

“Se a Sérvia quer andar na direção da União Europeia, é condição a primazia do Estado de direito, mas também a aceitação da independência do Kosovo”, afirmou na quarta-feira Sigmar Gabriel. O presidente sérvio recusou a ideia. “Se não houver um compromisso haverá um conflito congelado durante décadas e décadas”, declarou Aleksandar Vucic. A Guerra do Kosovo fez 13 mil mortos e, durante 18 anos, a missão da NATO (a KFOR) contou com um contingente militar português. Questionado pelo DN sobre o futuro alargamento da UE, o ministro Santos Silva lembrou que a Sérvia é neste momento país candidato, mas o Kosovo não. “Não sei como será daqui a 20 anos. Mas neste momento a adesão do Kosovo é uma questão que não se põe.”

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