Xi Jinping
| EPA/CHRIS RATCLIFFE
Xi Jinping
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Partido Comunista quer acabar com o limite de dois mandatos para o presidente e deixa porta aberta para Xi ficar para lá de 2023
O mote foi lançado em outubro, quando, ao contrário do que é tradição no final do congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), não foi apresentado o nome do provável sucessor de Xi Jinping. Agora, a especulação de que o presidente estava a planear ficar no poder para lá de 2023 confirmou-se. O Comité Central do PCC propôs oficialmente remover a cláusula da Constituição que impõe um limite de dois mandatos de cinco anos ao chefe do Estado.
“Xi Jinping conseguiu finalmente atingir o seu maior objetivo desde que chegou à política, que é ser o Mao Tsé-Tung do século XXI”, disse à agência AP o analista político Willy Lam, da Universidade Chinesa de Hong Kong, referindo-se ao fundador da China comunista. Além do fim do limite de mandatos, o comité central propõe incluir na Constituição o pensamento de Xi Jinping sobre o socialismo com características chinesas para uma nova era. Este já tinha sido incluído no programa do partido, em outubro, quando o presidente prometeu o advento dessa nova era, culminando em 2050, com uma China próspera, moderna e respeitada no plano internacional, sempre com o partido comunista aos comandos.
Xi Jinping, de 64 anos, tornou–se secretário-geral do PCC em novembro de 2012, sendo oficialmente eleito presidente da China em março de 2013. Na próxima sessão da Assembleia Nacional Popular, que começa a 5 de março, será oficialmente eleito para o segundo mandato. É nesse momento que serão votadas as alterações à Constituição.
Mas Xi Jinping, ou Papá Xi como é conhecido num cenário de quase culto da personalidade, tem uma série de outros cargos que reforçam o seu poder: presidente da Comissão Militar Central, comandante-chefe do exército chinês, líder da Comissão Central de Segurança Nacional e está também à frente do grupo dirigente encarregado de supervisionar o programa de “aprofundamento geral das reformas”.
Há quem especule que, como o cargo de líder do partido é considerado mais importante do que o de chefe do Estado, Xi Jinping possa ser nomeado presidente do PCC. Isso permitia-lhe ficar o tempo que quisesse no poder. Atualmente é secretário-geral (não há limite de mandatos para esse cargo) e só houve no passado três presidentes do PCC – os três primeiros líderes após a fundação da República Popular da China, em 1949.
A Reuters nota também que os media estatais chineses têm usado cada vez mais o termo “lingxiu” para se referir a Xi Jinping, quando o tradicional para se referir ao líder é “lingdao”. Contudo, a primeira palavra tem também uma conotação mais imponente, quase espiritual, e foi usada em relação a Mao Tsé-Tung – mas não aos antecessores do atual presidente, Hu Jintao ou Jiang Zemin.
A notícia de que Xi Jinping pode ficar no poder para lá de 2023, quando acaba o seu segundo mandato, não apanhou ninguém de surpresa. “Em teoria, ele pode servir mais do que [Robert] Mugabe, mas na realidade ninguém sabe o que vai acontecer”, indicou à Reuters o historiador e comentador político Zhang Lifan, referindo-se ao ex-presidente do Zimbabwe que ficou quatro décadas no poder. “Se a saúde lhe permitir, quer ficar no poder 20 anos, isto é, até 2032 enquanto secretário-geral do Partido, e 2033 enquanto presidente da China”, indicou Willy Lam, desta vez à AFP, citando fontes próximas do poder em Pequim. Xi Jinping terá então 80 anos.
Outra alteração à Constituição proposta pelo CCP (que se reúne entre hoje e quarta-feira) é o reforço das cláusulas sobre o papel de liderança do partido, garantindo o controlo total deste sobre o país. “A liderança do PCC é a característica definidora do socialismo com características chinesas”, lê-se na proposta, citada pela agência Xinhua.