Padre e freira de Kerala condenados pela morte de uma freira, que os surpreendeu em pleno ato sexual na cozinha.
Ocorpo da irmã Abhaya foi encontrado num poço próximo do convento indiano, St. Pius X Convent Hostel, na cidade de Kottayam (Kerala, no sul da Índia), a 27 de março de 1992. A primeira tese apontou para suicídio, mas, sabe-se agora que se tratou de um crime para esconder um escândalo sexual na diocese católica. Em dezembro, um padre e uma freira foram condenados a prisão perpétua pelo assassinato da jovem.
Os chinelos estavam espalhados pelo chão da cozinha do convento, o véu branco encontrado preso na porta. No canto da sala havia um machado. Esta foi a cena do crime que a polícia encontrou e que descreve na acusação a que a CNN teve acesso.
Um exame post-mortem revelou que a freira tinha marcas de unhas em ambos os lados do pescoço e duas feridas laceradas na cabeça. O corpo tinha escoriações múltiplas e uma fratura no crânio. Apesar disso, e da descrita cena do crime, ninguém foi acusado ou levado a tribunal pela morte da jovem de 27 anos durante quase 30 anos.
Os detalhes do que aconteceu naquela noite só vieram à tona anos depois, depois de muita pressão de ativistas e da família da jovem freira. O pai ficou inconformado com a tese de suicídio e recusou desistir de encontrar o assassino da religiosa. Morreu em 2015, cinco anos antes do tribunal atribuir as culpas a um padre e uma freira, em dezembro de 2020.
Segundo a acusação, Thomas Kottoor (padre) e Sephy (freira) tinham um relacionamento ilícito e foram surpreendidos em pleno ato sexual na cozinha do convento pela jovem, tendo-a matado para esconder o caso. Juraram inocência, mas foram agora condenados a prisão perpétua, quase 30 anos depois, num julgamento que começou em abril de 2019 e se arrastou até dezembro passado. A polícia acreditava que um outro padre estava envolvido no assassinato, mas a acusação foi retirada por falta de provas.
O caso chocou a Igreja Católica e abalou a comunidade cristã na Índia. Kerala tem uma comunidade cristã considerável, cerca de 18% de sua população (que é de maioria hindu). A diocese e a polícia foram acusados de adulterar provas para esconder o crime violento no convento. O véu da freira e os chinelos desapareceram da lista de provas, por exemplo.
E, de acordo com o principal gabinete de investigação criminal do país (o CBI), que assumiu a investigação ao fim de mais de duas décadas, a irmã Sephy foi submetida a uma himenoplastia, uma operação para restaurar ou reconstruir o seu hímen, um dia antes de se detida, em 2008, para fazer parecer que ainda era virgem e assim deitar por terra a acusação da prática de sexo com o padre.
Em Kerala, nos últimos anos, várias vítimas apresentaram queixas de agressão sexual no seio da Igreja Católica. Em abril de 2019, o bispo católico Franco Mulakkal foi acusado de violar uma freira várias vezes entre 2014 e 2016. Já o ex-padre católico Robin Vadakkumchery foi condenado a 20 anos de prisão em 2019 por violar uma menina de 16 anos em Kerala. O caso foi exposto depois da vítima dar à luz em fevereiro de 2017.